quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Nem só de cordas

Nem só de cordas, regulagens, shapes, construções e muito pó de madeira vive um luthier. Nem só de cordas, escalas, acordes, harmonia e muito metrônomo vive um músico. Nada melhor pra um fôlego novo que uma boa música, uma boa leitura, algo do gênero. Há algum tempo lido e mais recentemente relido, o ótimo livro do Roberto Muggiati é o exemplo do que há de mais musical nas letras da muda literatura, em contraposição com o universo sonoro da literatura dele:
Improvisando Soluções

No livro, Roberto pega histórias verídicas de grandes nomes da música, como Louis Armstrong, Billie Holiday, Hermeto Pascoal, Sonny Rolins, João Gilberto, entre outros para exemplificar o quanto, mais que o jogo de dedos na hora de fazer um som, o jogo de cintura foi imperativo para o sucesso deles. Em boa parte do livro as histórias absurdas e as saídas geniais divertem e mostram como o improviso é mais do que um estudo a ser feito entre as cinco linhas da partitura cotidiana, é um exercício diário que abrange as mais remotas áreas da nossa vida e, entre um riso e outro, uma lenda urbana e uma história comovente, acabamos vendo a importância da grande arte do improviso pra tornar esse fardo nosso de cada dia um pouco mais leve.
Dá pra achar o livro bem baratinho lá na Estante Virtual clicando aqui ou ainda clicando aqui pra cotar ele novo lá no Buscapé.

domingo, 14 de outubro de 2012

Depois da compra.


Na último post, falamos sobre a boa escolha do instrumento, incluindo tipos de madeiras e seus formatos. Hoje, você vai ficar sabendo quais são os passos seguintes à compra e ainda o que ocasiona os empenamentos.
É recomendado, após comprar a guitarra, levá-la ao seu luthier de confiança e pedir uma revisão. Atualmente, a maior parte dos instrumentos é feita na China, Coreia ou Indonésia e o transporte para o Brasil é feito por meio de navios, o que faz com que tenham um contato muito prolongado com a umidade do mar; sem contar que a natural diferença climática entre o país de origem e de destino desregula qualquer guitarra. Peça ao luthier que regule o braço e a altura dos captadores, hidrate a escala e lubrifique o hardware. Esse também é um bom momento para tirar as cordas originais, mesmo que estejam novas, e colocar as cordas da sua marca predileta - uma vez que raramente as guitarras são equipadas na fábrica com cordas de qualidade.
Por conta do clima e de sua influência, há ainda a questão dos empenamentos das madeiras. Eles ocorrem durante os processos de desdobro (um encurvamento causado pelas tensões de crescimento da madeira; há a tendência de as extremidades das peças se distanciarem do centro dela) e de secagem, tanto antes quanto depois da construção, por causa da alteração das fibras de acordo com a temperatura e umidade do ar. Todos os materiais sofrem alterações com a variação do clima, e apesar da possibilidade de diminuir os efeitos com uma madeira de qualidade bem seca e tratada, é impossível fazer com que ela não se altere. Note que seu instrumento, mesmo regulado, fica com a ação de cordas mais alta quando o tempo está mais quente e mais baixa quando o tempo fica subitamente mais frio. Com esses conceitos em mente, você conseguirá entender as escolhas das madeiras para os instrumentos.
Todas as madeiras utilizadas comumente para a fabricação de guitarras já são mais resistentes a esse tipo de variação: uma guitarra construída com um altíssimo padrão de qualidade pode aguentar uma variação de 15 graus sem que sua regulagem tenha sido muito comprometida. Já instrumentos que não têm o mesmo esmero na secagem e na escolha das madeiras apresentam empenamento e torções muitas vezes irrecuperáveis em pouco tempo, ou então necessitam de regulagens mais frequentes. Apesar de todas as madeiras serem resistentes, o que confere suas singularidades, além das aparências, são fatores como sua frequência de vibração (bata com um diapasão e encoste na madeira sem acabamento para ouvir seu timbre), ressonância, flexibilidade, estrutura das fibras, densidade e umidade.
Mesmo os instrumentos feitos em série soarão, cada um, de uma forma extremamente única. Não existem duas madeiras estruturalmente iguais, o que não resultará em dois instrumentos iguais em nenhuma hipótese.
Por hoje é só, muito obrigado e até a próxima!

sábado, 6 de outubro de 2012

Escolhendo um instrumento

Com este primeiro post no blog achei por bem "começarmos pelo começo", afinal de que vale eu já ir direto pras cabeças se muitos ainda nem tem o instrumento, não é?
Terei como objetivo esclarecer dúvidas frequentes que percebo em meus clientes na Ka Luthieria, desmistificar as histórias da área que se tornaram verdadeiras "lendas urbanas" e ajudar você, leitor, a ter uma visão mais ampla sobre seus instrumentos.
Para dar início, um tema comum a qualquer músico: a procura pelo instrumento perfeito.
Quando começamos a tocar, raramente temos informações suficientes para fazer uma escolha acertada e, como nem sempre os vendedores têm esses dados, montei um pequeno passo a passo do que deve ser levado em conta na hora de comprar um equipamento.Independentemente da faixa de preço desejada, observe se o instrumento possui tensor, pois ele é um dos principais diferenciais e leva a uma maior vida útil da guitarra, do baixo ou do violão; mantendo-o bem regulado, ele ajuda a controlar empenamentos (quando o braço se torna côncavo:

 ou convexo:)

e a prevenir torções (quando o braço torce no sentido de um 8):


além de garantir um maior conforto ao tocar. Há como identificar um empenamento de braço como o mostrado na fig. 1 com o truque de apertar a última casa e a primeira: se o meio da corda não estiver encostando nos trastes, é sinal de que o braço está "para frente".
Outro fato importante a ser observado é o estilo de música que será tocado com ele. Antes de ir à loja, procure pesquisar se os seus ídolos tocam com captadores do tipo single ou humbucker (captadores "duplos"); ao escolher o tipo de captador certo, será possível reproduzir com mais fidelidade o som desejado. Opte por guitarras de modelos mais convencionais, sem muitas pontas e chifres, pois eles, além de favorecerem a perda de som do ponto de vista acústico, são desconfortáveis para o estudo. Quando o vendedor perguntar sobre o modelo, cite nomes como Stratocaster, Telecaster, Les Paul e SG - além
de confortáveis, ainda oferecem uma maior possibilidade e valor de revenda, assim como são produzidos por indústrias de várias faixas de preço. Pergunte também sobre as madeiras utilizadas na confecção do braço e o corpo. Madeiras com bom timbre fazem com que sua guitarra valha um upgrade ao invés de trocá-la, o que sai mais barato e, às vezes, é até melhor. Mogno e cedro podem ser referência de boas madeiras de corpo para aqueles que gostam de timbres mais graves, enquanto ash, alder, maple e marupá têm características mais agudas e brilhantes. Para o braço, prefira madeiras mais resistentes, como o maple, pau-marfim e até o próprio mogno; já para a escala existem algumas "regras" gerais - madeiras claras tendem a ter um timbre mais agudo, favorecendo os harmônicos dessa gama, enquanto as madeiras escuras tendem a ter um timbre mais grave (com exceção do ébano, que tem um timbre mais agudo, apesar de sua relativa deficiência acústica).
Por hoje é só. Até a próxima.
 
 
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